
Superbactérias estão silenciosamente conquistando novos territórios além dos hospitais, representando um risco crescente para a saúde global. Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP identificaram bactérias multirresistentes em ambientes agrícolas e animais silvestres, evidenciando sua preocupante dispersão entre diferentes ecossistemas.
O grupo liderado pela professora Eliana Guedes Stehling descobriu como bactérias dos gêneros Acinetobacter e Klebsiella adquirem e disseminam resistência a antibióticos em ambientes naturais, incluindo solos agrícolas, águas superficiais e até mesmo em uma tartaruga semiaquática. Esta migração silenciosa entre diferentes habitats acelera sua transmissão para humanos e animais, configurando um cenário alarmante para a saúde pública.
A pesquisa revelou que estas superbactérias possuem mecanismos sofisticados de resistência aos antibióticos mais potentes disponíveis na medicina moderna, incluindo os carbapenêmicos – considerados a última linha de defesa contra infecções graves.
Como as Superbactérias se Espalham na Natureza
O estudo identificou múltiplos fatores que contribuem para a disseminação destes microrganismos:
- Transmissão ambiental: Bactérias resistentes circulam entre água, solo e ar
- Contaminação agrícola: Uso de fertilizantes orgânicos e irrigação com água poluída
- Cadeia alimentar: Contaminação de frutas e vegetais consumidos crus
- Contato direto: Transmissão entre animais silvestres, domésticos e humanos
- Elementos genéticos móveis: Estruturas que facilitam a transferência de genes de resistência entre diferentes espécies de bactérias
“As linhagens resistentes podem ser selecionadas pelo uso de fertilizantes orgânicos ou pela irrigação com água poluída,” explica Rafael da Silva Rosa, pesquisador do estudo. “Em humanos, a transmissão pode ocorrer pelo contato direto com animais e produtos contaminados, ou pelo consumo de alimentos crus ou malcozidos.”
Descobertas Inéditas que Preocupam os Especialistas
Os pesquisadores descobriram algo inédito: a presença simultânea de duas carbapenemases (enzimas que degradam antibióticos) em uma mesma bactéria isolada de fontes aquáticas no Brasil. Esta combinação potencializa sua resistência a tratamentos, tornando-as praticamente invencíveis aos antibióticos disponíveis.
Comparativo das Bactérias Identificadas
O Papel da Agricultura na Disseminação das Superbactérias
A presença de Klebsiella resistente a antibióticos em solos usados no cultivo de limão, goiaba e figo em Jardinópolis (SP) sugere uma conexão direta entre práticas agrícolas e a seleção de linhagens resistentes. Os pesquisadores apontam que a contaminação pode estar relacionada a:
- Uso excessivo de antibióticos na produção animal
- Aplicação de dejetos animais como fertilizantes
- Irrigação com água contaminada
- Presença de resíduos de antibióticos no ambiente
Esta realidade ressalta a necessidade urgente de práticas agrícolas sustentáveis que considerem o impacto no surgimento e dispersão de bactérias resistentes.
A Abordagem One Health como Solução
A Organização Mundial da Saúde reconhece que o combate às superbactérias exige uma visão integrada entre saúde humana, animal e ambiental. A abordagem One Health (Saúde Única) propõe ações coordenadas em múltiplas frentes:
- Uso racional de antibióticos: Redução do uso indiscriminado em medicina humana, veterinária e agricultura
- Vigilância integrada: Monitoramento contínuo da resistência em diferentes ambientes
- Melhoria sanitária: Investimento em saneamento básico e água potável
- Inovação farmacêutica: Desenvolvimento de novos antimicrobianos e alternativas terapêuticas
- Educação pública: Conscientização sobre o uso correto de antibióticos
“É necessário reduzir o uso indiscriminado de antimicrobianos e promover sua utilização correta em todos os setores, além de seguir medidas rigorosas de prevenção e controle,” enfatiza o pesquisador Rafael Rosa.
Próximos Passos na Luta Contra a Resistência Antimicrobiana
Os pesquisadores da USP seguem investigando a complexa rede de transmissão das superbactérias entre ambientes, animais e humanos. Os estudos destacam a urgência de políticas públicas integradas e conscientização sobre este problema silencioso que ameaça a eficácia dos antibióticos para as futuras gerações.
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Mais Informações: USP