O piso salarial para profissionais da educação básica refere-se à remuneração mínima garantida por lei para trabalhadores que atuam em funções de apoio técnico, administrativo e operacional nas escolas públicas. Essa categoria inclui profissionais como merendeiras, secretários escolares, vigilantes, inspetores de alunos, porteiros, auxiliares de serviços gerais, motoristas de transporte escolar, bibliotecários e assistentes administrativos.
Piso Salarial para Profissionais da Educação em Debate: Valorização e Desafios Orçamentários em Foco em Dezembro de 2025
Em dezembro de 2025, a discussão sobre o piso salarial desses profissionais ganhou momentum na Câmara dos Deputados, com audiência pública realizada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) no dia 4 de dezembro, focando em dois projetos de lei principais: o PL 2.531/21 e o PL 3.817/20.
Os Projetos de Lei em Discussão
PL 2.531/21: O Avanço nas Comissões
O Projeto de Lei 2.531/21, de autoria da ex-deputada Rose Modesto (PSDB-MS), propõe a instituição de um piso salarial profissional nacional para os profissionais dos quadros técnico e administrativo da educação básica pública. O projeto já foi aprovado em várias comissões da Câmara, incluindo a Comissão de Educação, Comissão de Administração e Serviço Público, Comissão de Trabalho, e Comissão de Finanças e Tributação.
A proposta estabelece que o piso desses profissionais seja equivalente a 75% do piso salarial nacional dos professores. Atualmente, com o piso do magistério em R$ 4.867,77 (valor de 2025), isso representaria aproximadamente R$ 3.650 mensais para jornada de 40 horas semanais.
PL 3.817/20: Discussão Paralela
O PL 3.817/20 tramita em conjunto com o PL 2.531/21, oferecendo uma proposta alternativa sobre o tema do piso salarial da educação básica.
O Impacto Salarial: De R$ 1.800 para R$ 3.650
Atualmente, a remuneração média dos profissionais técnico-administrativos da educação é de aproximadamente R$ 1.800 mensais, frequentemente limitada ao salário mínimo. Com a aprovação do piso proposto, essa remuneração aumentaria para R$ 3.650 mensais, representando um acréscimo significativo de mais de 100% nos salários desses profissionais.
Esse aumento não apenas valoriza esses trabalhadores, como também reconhece a essencialidade de suas funções na operacionalização das escolas públicas, já que a instituição escolar não funciona adequadamente sem profissionais que cuidem da gestão, alimentação, limpeza e segurança.
Fundamentos Legais e Constitucionais
A discussão sobre o piso salarial para profissionais de educação não é nova. Ela se baseia em dispositivos constitucionais e legais consolidados:
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Constituição Federal: Estabelece como princípio do ensino o piso salarial profissional nacional para trabalhadores em educação
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Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB): Reafirma esse princípio
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Lei 14.113/2020 (Novo Fundeb): Determina que estados, municípios e Distrito Federal devem implementar planos de carreira e remuneração para profissionais da educação, incluindo aqueles em funções de suporte técnico e administrativo
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Lei 14.817/2024: Trata das diretrizes para carreira dos profissionais de educação
O diretor de Programa da Secretaria de Articulação Intersetorial do MEC, Armando Amorim Simões, reafirmou durante a audiência: “A fundamentação legal dos pisos dos profissionais da educação está posta em todas as legislações que nós temos hoje estruturando as carreiras e a atuação profissional no âmbito da escola pública brasileira”.
Financiamento: O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb)
O financiamento do piso proposto seria custeado através do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
Números do Fundeb em 2025
O Fundeb alcançará R$ 325,5 bilhões em 2025, representando um aumento de R$ 19,8 bilhões (6,48%) em relação a 2024. A lei estabelece que no mínimo 70% dos recursos anuais do Fundeb devem ser destinados ao pagamento da remuneração dos profissionais da educação em efetivo exercício.
Impacto Orçamentário do Piso
Conforme análise apresentada pela Comissão de Finanças e Tributação, o impacto orçamentário do piso proposto foi estimado em R$ 39,5 bilhões anuais para pagar aproximadamente 1,6 milhão de merendeiras, vigilantes e outros profissionais. A relatora deputada Socorro Neri (PP-AC) argumentou que esse impacto equivale a 11,7% da receita estimada do Fundeb para 2025.
A deputada também destacou que “para o ano de 2026 e seguintes, o aumento anual esperado das receitas do Fundeb comportará o acréscimo introduzido por esse novo piso, sem comprometer a sustentabilidade financeira do fundo”.
Posições em Debate: Apoio e Críticas
Apoio do Governo e Sindicatos
O Ministério da Educação (MEC) expressou apoio explícito ao PL 2.531/21, considerando a valorização desses profissionais como “uma medida urgente e necessária”. A coordenadora-geral de Valorização dos Profissionais de Educação do MEC, Maria Stela Reis, afirmou que “o MEC apoia o Projeto de Lei 2531/2021”.
Deputados como Idilvan Alencar e Erika Kokay cobram celeridade na tramitação do projeto. Idilvan, ex-deputado federal e secretário de educação de Fortaleza, criticou o atraso: “Não podemos aceitar que um profissional passe 30 anos servindo à escola e à sociedade e se aposente com um salário mínimo”.
As principais organizações representativas dos profissionais da educação, como CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), CONFETAM (Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal) e sindicatos estaduais, participaram ativamente da audiência pública de 4 de dezembro, defendendo a aprovação do projeto.
Preocupações Municipais e Estaduais
A CNM (Confederação Nacional dos Municípios) e outros gestores de estados e municípios apresentaram preocupações quanto ao impacto fiscal da medida. Argumentam que muitas prefeituras enfrentam fragilidade fiscal e têm dificuldades para cumprir compromissos salariais existentes.
A CNM apresentou dados sobre o impacto do reajuste do piso dos professores em 2025, afirmando que teria um impacto de R$ 16 bilhões nos cofres municipais. No entanto, entidades como a CONFETAM rebateram essas críticas, destacando que “O Fundeb deve chegar a R$ 266 bilhões em 2026. O impacto do piso representaria apenas uma pequena parte desse montante”.
Grupo de Trabalho do MEC
Em resposta à necessidade de aprofundar a discussão, o MEC instituiu um Grupo de Trabalho (GT) através da Portaria Sase/MEC nº 20/2025, publicada em 5 de novembro de 2025. O GT tem caráter consultivo e de assessoramento, com prazo inicial de 60 dias, prorrogável por igual período.
O GT é formado por representantes de:
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Secretaria de Articulação Intersetorial e com os Sistemas de Ensino (Sase)
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Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed)
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União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime)
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Conselho Nacional de Secretários de Educação das Capitais (Consec)
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Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)
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Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam)
Segundo a Portaria, o grupo realizará reuniões quinzenalmente e entregará uma minuta de projeto de lei acompanhada de nota técnica que servirá de base para discussão no Congresso Nacional. Até o final de dezembro, o GT deve realizar mais três encontros.
Próximos Passos e Perspectivas do Piso Salarial da Educação:
A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) é a última comissão que o PL 2.531/21 deve passar antes de ir ao plenário da Câmara dos Deputados. O relator prometeu apresentar parecer na semana seguinte à audiência pública de 4 de dezembro.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (por meio de seu antecessor e sucessor), comprometeu-se com a aprovação de matérias prioritárias de educação. Com a defesa do MEC, apoio de sindicatos, e após quatro anos de tramitação acumulando aprovações em comissões especializadas, o pL 2.531/21 tem perspectivas concretas de votação ainda em dezembro ou início de 2026.
Impacto Social e Profissional
Para os profissionais da educação, a aprovação do piso salarial representaria não apenas aumento salarial, mas também:
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Reconhecimento profissional: Institucionalização de direitos já previstos na Constituição mas não efetivados
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Planos de carreira: O MEC afirma que o piso nacional incentivará estados e municípios a criar planos de carreira e fortalecer vínculos desses servidores com as instituições de ensino
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Dignidade: Fim do cenário onde profissionais com decades de serviço se aposentam com salário mínimo
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Equidade: Redução da desigualdade entre diferentes regiões e entre profissionais docentes e não docentes
O debate sobre o piso salarial para profissionais da educação em dezembro de 2025 representa um momento crítico para a valorização dos trabalhadores que sustentam o funcionamento das escolas públicas brasileiras. Equilibrando-se entre a necessidade urgente de valorização profissional e as preocupações legítimas sobre sustentabilidade fiscal, o PL 2.531/21 encontra-se em estágio avançado de tramitação, com aprovação em comissões especializadas e apoio institucional do Ministério da Educação.
A audiência pública realizada em 4 de dezembro mobilizou múltiplos atores sociais, demonstrando a importância política do tema. Com o Grupo de Trabalho do MEC reunindo-se até o final de dezembro e perspectivas de votação no plenário, o piso salarial dos profissionais técnico-administrativos da educação pode se tornar realidade ainda em 2025 ou no início de 2026, marcando um avanço significativo na história da valorização dos profissionais da educação brasileira.



